Alguns objetos, inconscientemente, marcam o relacionamento. A mala é o primeiro. Grande, às vezes, não cabe em nenhum lugar, mas é de extrema importância numa viagem a dois.
Oferecer um cantinho da sua mala para que o outro possa colocar a roupa é o mesmo que dizer: entraste de vez na minha vida. É o sinal de que não existe um, mas dois que são um só. Renuncia à sua intimidade e, principalmente, à sua desorganização, por amor. É pôr na mala não somente um punhado de roupas limpas que serão usadas na praia ou num jantar romântico, mas também colocar lá dentro um turbilhão de esperança e otimismo.

Não interessa se oferece a mala ou se é convidado a colocar os objetos, a sensação é a mesma. Ou parecida. Abre-se um sorriso e um frescor indescritíveis. No auge da paixão e da relação, dividir significa confiar. Primeiro, porque compreende que está a ser convidado a participar da vida do outro. Segundo, porque vai abrir um novo tempo: o do nós, do nosso e não mais do meu.

E de uma mala feita para o fim-de-semana, há a mala de idas e vindas, que mal é desfeita porque na semana seguinte tem que voltar com todos os seus pertences. É como se cada vez estivéssemos a recomeçar, a cada dia melhor e diferente. Há a mala de carro. Aquela que deixa pronta no banco de trás para quando sair para o trabalho com aquela saudade e desejo de dormir na casa dele.

A pior sensação talvez seja a mala de despedida. Ela vem carregada de ressentimento e rancor de uma relação que não avançou por outros horizontes. É deixar no canto da sala a aposta de anos, de uma vida, de uma viagem. Quem já passou pela experiência sabe, é deitar fora os seus sonhos, os seus desejos. Mas fazer e desfazer malas são consequências da vida. É o risco que se corre, até um dia em que vai encontrar na mala a sofisticação que deseja: polida, limpa, cheirosa e com um fundo imenso de amor para o levar a qualquer lugar do mundo.

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Espero que tenha gostado. Beijos