Agricultura biológica e biodinâmica em vinhos? Quinta da Palmirinha, localizada em Felgueiras, é pioneira!

Publicado em 26/08/2020 por Andressa Pedry

Começando pelo princípio, você sabe ao certo o porque as produções levam o título de biológica e/ou biodinâmica? Então vou explicar.

Uma produção recebe a certificação de biológica quando a produção vegetal contribui para a manutenção e aumento da fertilidade dos solos e a sua proteção contra a erosão, enquanto a produção animal fornece as matérias orgânicas e os nutrientes necessários às culturas. É garantido o acesso dos animais a espaços ao ar livre ou a pastagens, são respeitadas as necessidades comportamentais de cada espécie e a gestão da saúde animal é baseada na prevenção das doenças. São priveligiadas as raças autóctones, adaptadas às condições locais.

A referência a este modo de produção é a garantia de que um alimento foi produzido em sintonia com os processos biológicos, promovendo a utilização sustentável de recursos naturais. A utilização de fertilizantes, pesticidas ou medicamentos veterinários de síntese química é restringida, favorecendo a utilização de produtos provenientes da produção biológica, substâncias naturais ou derivadas e fertilizantes minerais de baixa solubilidade. Os produtos biológicos são livres de organismos geneticamente modificados (OGM).

Para o caso da certificação biodinâmica, já passamos a entender de forma mais profunda e muitas vezes incrédula por muitas pessoas. A agricultura biodinâmica é uma forma alternativa de agricultura muito semelhante à agricultura orgânica, mas que inclui vários conceitos filosóficos desenvolvidos a partir das ideias de Rudolf Steiner (1861–1925). Desenvolvida inicialmente na década de 1920, este foi o primeiro movimento de agricultura orgânica atual reconhecido. Ela trata a fertilidade do solo, crescimento das plantas, e os cuidados da pecuária como tarefas ecologicamente inter-relacionadas, enfatizando as perspectivas espirituais e energéticas.

A biodinâmica tem muito em comum com outras abordagens orgânicas – que enfatizam o uso de esterco e compostos e exclui o uso de produtos químicos artificiais no solo e plantas. Produtos que são originários de agricultura biodinâmica recebem o selo chamado Demeter.

Métodos originais de abordagem biodinâmica incluem o tratamento de animais, culturas e do solo como um sistema único; uma ênfase desde o início nos sistemas de produção e distribuição local; seu uso do desenvolvimento tradicional e de novas raças e variedades locais; e o uso do calendário astrológico para a semeadura, plantio, irrigação e colheita, utilizando-se das influências que as posições dos astros (cada um com suas composições químicas) no céu exerceriam sobre os elementos químicos e recursos hídricos na Terra.

Dinamizador

A agricultura biodinâmica utiliza vários catalisadores orgânicos e minerais para a absorção da energia cósmica no solo. São os chamados preparados biodinâmicos. Podemos dizer que são um tanto curiosos, como por exemplo, o uso do esterco inserido no chifre de vaca. Este é enterrado por um ano e após este período, uma pequena quantidade deste esterco é dinamizada em água e aplicada no solo para ativação da matéria orgânica. A dinamização é feita manualmente, no mínimo por uma hora, mexendo o conteúdo de forma energética.

Chifre de vaca com esterco

Agora que já estão esclarecidos sobre as duas certificações, vamos então à Quinta da Palmirinha. Esta ideia entra em minha mente e na do meu namorado, Flávio Erreria, por termos ido jantar em um local bem especial. O estabelecimento só trabalhava com alimentos biológicos, 100% nacional e eram adeptos do desperdício zero. Lá, como em qualquer outra situação de estarmos a jantar fora no verão europeu, nos foi apresentado um vinho verde bem fresquinho. Chamou-nos a atenção porque possuía o selo DEMETER. Entre ler o rótulo, apreciar o vinho e buscar informações com o proprietário do local, nos veio a vontade então de conhecermos este produtor diferenciado no mercado para sabermos um pouco mais sobre esta produção.

Num primeiro contato telefónico, fomos extremamente bem atendidos com uma grande voz de entusiasmo do outro lado, o que nos deu ainda mais vontade de fazermos os tais 300 kilómetros de Lisboa à Felgueiras para vermos como tudo aquilo era feito.

Chegamos em Felgueiras e fomos recebidos com um super sorriso de satisfação e simpatia do Sr. Fernando Paiva. São 75 anos cujo os últimos 20 inteiramente dedicados à Quinta da Palmirinha. Uma pequenina propriedade com três hectares de vinhas em Lixa – Felgueiras.

Ele, possui imensa influência de gerações passadas, sendo “ Filho, neto, trineto e tetraneto de agricultores ”, como gosta de sublinhar. Desde muito cedo esteve habituado à agricultura, onde várias culturas (a da vinha inclusive ) coabitaram. Em janeiro de 2000, com 55 anos, veio o momento de se aposentar mas, para este homem cheio de garra e energia, era muito cedo para parar. Ficava para trás a carreira de professor de Português e História de 2º Ciclo, em Amarante, onde reside.

Rejeitou, de imediato, seguir o caminho da calmaria. Fez formações variadas sobre agricultura biológica e com Pierre Masson aprendeu algo que nunca esqueceu:

“É possível fazer uma agricultura diferente sem perder rendimento”.

Durante dois anos forneceu uvas em processo de conversão para biológico na Cooperativa de Felgueiras, num terceiro ano forneceu na mesma adega uvas biológicas. Começou por elaborar sumos de uva e de maçã, os Sumbi, que ainda existem mas com menor protagonismo. Aliás, a pequenina adega da Palmirinha foi inicialmente pensada para fazer sumo de uva, não vinho, vale a apena dizer.

“Andava há muito tempo à procura de uma alternativa ao sulfuroso para conseguir ter no mercado um vinho absolutamente natural”. E quando menos esperava, Fernando Paiva deparou-se com uma excelente alternativa. A caminho da Quinta, era de manhã muito cedo e ainda fora do “horário nobre” da rádio, ouviu na Antena 1 uma professora do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) que dizia estar a usar flor de castanheiro para proteção de queijos devido às propriedades anti-oxidantes que descobrira. “Foi uma revelação fabulosa”, admite. Cheio de esperança, naquele dia mesmo entrou em contacto com o IPB e conseguiu marcar uma reunião. Acreditando nesta possibilidade ou não, aconselharam que ao Sr. Fernando fosse bem cauteloso com a experiência.

Ja em 2015 fez as primeiras e usou a flor de castanheiro em 100 litros de vinho. No ano seguinte replicou a experiência em 300 lts. de branco e 700 lts. de tinto, em 2017 apostou em 3.000 lts. e na produção de 2018 só recorreu à flor de castanheiro.

“A flor de castanheiro é ainda mais eficaz que os sulfitos. Os sulfitos vão-se combinando e o sulfuroso livre vai sendo cada vez menos. É necessário ir às cubas, verificar, acrescentar. Com a flor de castanheiro juntam-se as doses necessárias logo na vindima e não há que ter medo de complicações porque o problema está resolvido”, garante. A flor de castanheiro é moída, transformada em pó e adicionada ao mosto em fermentação. Por cada pipa de vinho, 225 gr. serão suficientes.

E assim se fez luz! Só tem dois castanheiros na Quinta da Palmirinha. As flores de castanheiro, que já substituem os sulfitos, são apanhadas pelos netos Mariana, Tiago e João. O mais velho ja demonstra interesse sobre os vinhos. As restantes flores necessárias são adquiridas externamente.

Da colheita de 2018, exclusivamente engarrafada com flor de castanheiro, sem sulfitos, elaborou dois vinhos, um Loureiro e um Arinto e Azal. Começou por ser mais entendido fora do país e hoje Portugal já dá sinais de o reconhecer como um pioneiro.

Das 8.500 garrafas produzidas em 2018, 60% terão por destino Inglaterra, Alemanha, Holanda, Canadá, Itália e França. Os preços são muito convidativos e o sentido de pureza e simplicidade dos vinhos merecem destaque.

A realidade deste antigo professor de Português e História é muito particular e sobretudo por possuir um olhar biodinâmico racional sobre a vinicultura.

Gostaram? Um enorme beijinho e ate uma próxima pessoal !!!


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