Liberte-se de amizades tóxicas!

Publicado em 22/02/2023 por Andressa Pedry

Liberte-se de amizades tóxicas

Somos seres sociais pelo que a qualidade da nossa rede de suporte é impactante no nosso bem-estar. Mas não vale tudo para termos pessoas próximas. Mais do que muitos amigos, queremos bons companheiros de vida, alinhados com os nossos valores e mentalidade. 

Já lhe aconteceu vir a sentir-se mal de um encontro social? Talvez valha a pena refletir o que terá contribuído para isso.

Uma amizade tóxica é uma relação de amizade que evolui de forma disfuncional e que se revela destrutiva. É uma relação em que não existe o respeito necessário pela individualidade do outro, predominando a crítica, o julgamento, a manipulação, o ciúme e/ou o poder. Se uma relação de amizade saudável tende a gerar potenciação mútua e constitui uma fonte de segurança e apoio, uma relação de amizade tóxica cria precisamente o oposto. Ao invés de nos sentirmos apoiados e confiantes, vamos nos sentindo progressivamente mais tensos, inseguros e com uma auto-estima mais frágil.

Quais os sinais de que se vive numa amizade tóxica?

Alguns sinais tradutores de que podemos estar numa relação de amizade tóxica: 

– quando o nosso amigo nos critica de forma destrutiva com frequência, fazendo comentários depreciativos que nos fazem sentir inseguros, inferiores e vulneráveis. Um amigo saudável é alguém que apesar das diferenças que possam existir, tem um papel construtivo e de suporte.

– quando existe receio de nos expressarmos livremente, medindo as palavras e a informação transmitida, por medo da reacção crítica do outro. A nossa individualidade fica colocada em causa; 

– quando informação pessoal e partilhada num contexto íntimo é divulgada e até distorcida, com comentários negativos – a privacidade e limites não são assim respeitados;

– quando parece existir uma competição e comparação permanentes;

– quando certos limites de humor são ultrapassados e passamos a ser um alvo de gozo constante por parte do nosso dito amigo;

– quando fisicamente denota uma maior tensão quando se aproxima um momento de estar com a pessoa em questão, e de uma forma geral se observam manifestações somáticas de ansiedade e mal-estar durante ou após a convivência com este amigo, como alterações gastro-intestinais, aperto no peito, alterações no apetite ou no humor, diminuição de energia. 

Há algum tipo de personalidade que tenha mais tendência para ficar mais tempo numa amizade tóxica, mesmo sabendo que é negativo para si?

Todos nós temos um conjunto de traços pessoais que se organizam e geram o que designamos de personalidade. Por vezes, estes traços podem tornar-se inflexíveis e desadaptativos, gerando repercussões negativas para o próprio. Uma das perturbações de funcionamento possíveis, evolui para uma estrutura de personalidade dependente, que se caracteriza por uma forte necessidade em se sentir protegido, cuidado e próximo do outro, permanentemente. Assim, há uma quase incapacidade de estar só e de funcionar de forma autónoma. Verifica-se uma busca incessante por amigos próximos, que tendem a ser idealizados, o que leva a uma anulação pessoal, em que as necessidades e desejos do outro passam a imperar sobre as próprias. Existe muitas vezes consciência de que seria importante e saudável ser mais independente e até por fim a algumas relações, contudo surge um medo bloqueante alimentado pela crença de que autonomia significa risco de abandono. Desta forma, tende a gerar-se uma co-dependência de amigos e amigos e mais amigos, com a perpetuação de relações muitas vezes insatisfatórias, como se nada fosse pior que ficar com poucas mas amizades verdadeiras. 

É possível estar numa amizade tóxica sem se aperceber disso?

Infelizmente é possível. Se a maioria das relações desenvolvidas ao longo da vida tenderem a ser assimétricas, numa base de auto-anulação permanente, de alguma forma aquela é a realidade que se conhece pelo que será mais difícil ter consciência do quão tóxica é a dinâmica relacional. 

De igual forma, quando a estrutura base de personalidade é pautada por uma enorme insegurança e uma auto-estima frágil, a percepção dos outros fica contaminada, pelo que se acredita ter menos valor que os que nos rodeiam. Nesse sentido, os amigos tóxicos podem ser encarados como amigos honestos, que dizem verdades duras, e os limites de respeito e autonomia perdem-se. 

Por último, algumas amizades podem nem sempre ter sido tóxicas de base, o que poderá dificultar a colocação de limites e o reconhecimento das mudanças na dinâmica relacional.

Como acabar com uma amizade tóxica?

Em primeiro lugar importa desenvolvermos a capacidade de nos auto-observarmos. Quanto mais conscientes estivermos de nós, quanto mais treinarmos a habilidade de identificar os nossos pensamentos, nomear as nossas emoções e descrever as sensações físicas experienciadas, mais conseguiremos dar um sentido a várias experiências do momento presente. Esta capacidade de reflexão será decisiva para nos apropriarmos do impacto que pessoas e contextos à nossa volta nos causam. 

Num segundo momento é relevante procurarmos desenvolver práticas de auto-cuidado e respeito por nós mesmos. Nesse sentido, a forma como os outros nos tratam é merecedor de atenção. Independentemente do nosso comportamento e de fragilidades que possamos ter, não temos o direito de nos julgar superiores a ninguém. À medida que alinhamos a maneira como nos tratamos e a relação que temos com os outros, fomentando respeito e companheirismo, vamos começar a triar as relações que já não nos servem e aquelas que nos potenciam. 

Em terceiro lugar, é útil termos em consideração que independentemente do que façamos nunca vamos conseguir agradar a toda a gente e que ao longo da nossa vida, por vezes existirão alguns conflitos e desencontros que são naturais e parte integrante do nosso crescimento. Nesse sentido, por mais que nos custe afastar de algumas pessoas, que nos permitamos a essa escolha. Não significa que o outro é má pessoa ou que já não gostamos daquele amigo; significa sim que, em determinado momento, não estamos suficientemente sintonizados para sermos amigos. As nossas crenças, preferências, até clareza dos nossos valores altera-se ao longo da nossa vida, pelo que é fundamental nos darmos legitimidade para reconhecer que algo que nos fez sentido em determinado momento, noutro pode ter-se tornado tóxico.

Como ultrapassar a perda da amizade, por muito que ela não fosse positiva para a nossa vida?

Pode ficar-se com o “coração partido” pelo fim de uma amizade como se ficaria pelo fim de uma relação amorosa. As relações de amizade fortes constituem vínculos de enorme importância, são relações de grande intimidade e confiança, pelo que em situações de ruptura poderão suscitar uma dor emocional intensa e é necessária a superação de várias etapas integrantes de um processo de luto.

Importará, em primeiro lugar, dar legitimidade a todas as emoções e pensamentos que surgirem. Não somos robots, pelo que mesmo com a consciência de que uma amizade não é positiva, tal não significa ausência de dor. Assim, será importante nos mantermos atentos a nós, com auto-diálogos produtivos, que nos ajudem a ultrapassar de forma adaptativa cada etapa do processo de luto, desde o choque e indignação, ao questionamento e tristeza, até à aceitação da realidade.

Os amigos bons à nossa volta, que constituem uma rede de apoio de qualidade, também terão um papel importante nesta fase, pelo que deveremos procura-los e permitirmo-nos partilhar o que estamos a sentir. É da observação do que sentimos com amizades saudáveis comparativamente ao que notamos junto de amizades tóxicas, que vamos reforçando serenamente a escolha de nos distanciarmos de um amigo que não nos fazia bem. 

Ao mesmo tempo, estas situações de perda de amizades constituem oportunidades de aprendizagem e crescimento. O que é que esta relação me trouxe? O que é esta situação me está a dar a oportunidade de aprender sobre mim? Que recursos pude reforçar com este desafio? São algumas das questões que nos podemos colocar, para transformarmos a dor da perda numa dor produtiva.

Muito feliz estou com este regresso dos artigos. Espero que tenham gostado porque 2023 será um ano de enormes conquistas!

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